Psicanálise é Ciência A história do saber científico é verificada em todo o processo da humanização, nos passos dados antes mesmo da formalização da escrita, embora a ciência, tal como a definimos hoje, esteja situada historicamente pela proposição das ideias de René Descartes, na primeira metade do século XVII. Efetivamente, a experiência de friccionar duas […]
A Psicanálise nasce no século XIX como efeito de uma posição que revira pelo avesso a lógica do sujeito racional, regulador da experiência do saber: o da ciência moderna. Esta, por sua vez, resulta do legado platônico-aristotélico que se fundamenta na ordem de um Bem Supremo, universal. Instigado pelas questões pulsáteis nesses dois eixos, dentro da tradição judaico-cristã, Freud encontra em sua obstinada busca pela verdade a resposta impactante: o sujeito do inconsciente, efeito da ordem da linguagem sobre o corpo pulsional. Isso demarca que o fundamento do nascedouro da Psicanálise é uma subversão calcada nos efeitos produzidos pela anterioridade das ideias que a precedem, sem as quais ela não seria possível.
Há cento e vinte anos este novo dispositivo produz uma intervenção política, clínica e epistêmica na cultura, que resiste à lógica da adaptação e da adesão sintomática ao sintoma da dominação do Outro, paradoxalmente condição da linguagem.
A singularidade do desejo e a destituição de uma realidade comum a todos,passível de modelações ideais por interferência da lei moral, causam verdadeiro estupor e consequentemente resistência na cultura, assim como na comunidade psicanalítica, razão pela qual a obra de Freud esteve em grande apuro.
É só com Lacan, num resgate rigoroso da experiência analítica, que será possível aproximar a Psicanálise do terreno científico, cumprindo o desejo de seu fundador. E isso se edificará a partir de sua insistente retomada da questão da verdade. Ele será exigente nessa averiguação dos requisitos para o acesso a um lugar no umbral da ciência cartesiana. Examinará argutamente tudo o que fundamenta essa designação. Por esse caminho, encontrará e admoestará toda uma sorte de pressupostos onipotentes que ditam a configuração de um instrumento que faz ascender a ignorância ao grau de uma perfeita verdade. Irá admitir que a ciência deve conhecer a verdade, mas ciente de que esta é um valor que corresponde à incerteza e que, portanto, com ela não é possível mais que uma aliança. Ele proclamava que o verdadeiro é sempre novo, aludindo a Max Jacob em Cornet à dés, fazendo disso uma grande virada ao construir um modelo estrutural que impinge a esse “novo” a faculdade de significante.
Articular uma matematização a uma poética para construir a formalização da formação do analista e instrumentar a posição da Psicanálise na cultura em sua atipia foi a tarefa a qual Lacan se dedicou incansavelmente.
Para a Psicanálise do campo Freud-Lacaniano, ou seja, o daqueles que vêm desbravando a invenção da Psicanálise com Lacan, acompanhando seu esforço no desdobramento de sua própria invenção, o desafio agora é restaurar a sua letra, no compromisso com a singularidade da transmissão um a um, que sublinha o estilo como único modo de fazê-la viva. Em “A excomunhão” Lacan nos apresenta o fundamento subversivo para a formação do analista: a Escola.
O Toro – Escola de Psicanálise, fundado em 27 de julho de 1996 em Maceió por um ajuntamento de analistas e interessados na Psicanálise, sustenta, com Lacan, o princípio de que analistas estão definitivamente em formação e que a Escola de Psicanálise é um lugar onde está posta a exigência da articulação do Real que, em sua impermeabilidade ao simbólico, insiste em não se inscrever.
Diferentemente do mestre, cuja autorização se sustenta do olhar do Outro, assujeitado a um saber imaginário, o analista se autoriza de si mesmo, sujeito ao saber da castração. Lacan abre a “Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o analista da Escola” articulando um princípio: “Antes de mais nada, um princípio: o psicanalista só se autoriza de si mesmo”.[1] Contudo continua: “Isso não impede que a Escola garanta que um analista depende de sua formação”. Suas recomendações na “Proposição” culminam quando, em torno da questão do suposto saber, ele diz que, se do saber suposto o psicanalista nada sabe, isso não o autoriza, “de modo algum, a se dar por satisfeito com saber que nada sabe, pois o de que se trata é do que ele tem de saber”.
Nos Escritos Lacan alude com precisão às concepções freudianas sobre a perspectiva epistemológica propícia à construção de um saber da Psicanálise, enquanto este abrange e catalisa com amplitude uma cultura universal: "Como esquecer, com efeito, que Freud manteve constantemente e até o seu fim a exigência primeira dessa qualificação para a formação dos analistas, e que ele designou na Universitas Litterarum de sempre o lugar ideal para sua instituição?". Aqui fica claramente apontada a perspectiva do olhar de Freud para os elementos a serem produzidos, imprescindivelmente, para compor o tecido da Formação.
Desta forma, o Toro – Escola de Psicanálise enfrenta as exigências próprias a um terreno que estabelece a radical diferença entre saber e conhecimento no percurso da formação. Este saber não pode ser regulamentado pelo ditame do Outro. Resulta de uma produção que se depreende na autoria do texto psicanalítico, fundamental, que não é selecionado de acordo com referências prévias e padrões determinados pela hierarquia institucional, mas é resultado do ato, da afirmação advinda do efeito do sujeito dividido que trama pensamentos e ideias, com os quais contribui em sua singularidade, em seu estilo, para o conjunto da obra humana. Dessa forma, o Toro – Escola de Psicanálise coloca em marcha o trabalho da publicação, tarefa indispensável para o compromisso com a transmissão da Psicanálise, estabelecendo o campo da interlocução que sustenta o circuito dos registros de nossas discussões, nossas invenções e nossas proposições para os problemas e desafios que a clínica, os estudos e o mal-estar na civilização colocam.
Nesta perspectiva, o Toro – Escola de Psicanálise mantém um constante diálogo com outros campos do conhecimento e da arte pela via de atividades abertas em sua pólis, contando com intelectuais e curiosos que partilham o interesse de questões próprias aos desafios do laço social e da política, como também nos grupos de estudos, cartéis e colóquios sistemáticos onde se encontram as marcas da cópula dos significantes que circulam na Literatura, na História, na Filosofia, na Religião, na Antropologia, na Música e no Cinema.
[1]A este aforismo Lacan fará um importante adendo em 1974: “E por alguns outros”, sublinhando a questão do laço entre analistas.
NÃO à criação do departamento de apoio às Comunidades Terapêuticas
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Abertura das atividades de 2023
O Toro – Escola de Psicanálise abre 2023 celebrando a reconquista do processo democrático no Brasil. Em clima de festa reafirmamos o propósito de em nosso campo fazer e refazer entusiasmadamente a produção da Psicanálise, contribuindo com a perene discussão sobre o humano, seus impasses e suas invenções, sempre em diálogo com os diversos campos […]
Colóquio 23/09/2022 “Situação da psicanálise em 2022”
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Início das atividades 30/01/2022
O Toro – Escola de Psicanálise animadamente inicia suas atividades neste domingo (30/01/2022) em Assembleia Geral para programação do trabalho no ano de 2022. As atividades teóricas se iniciarão a partir de segunda-feira (31/01/2022).